Lobos sem pernas para "aceleras" norte-americanos
Não é justo! Depois de um triunfo, o único do fim-de-semana, arrancado de novo nos derradeiros instantes de jogo diante do Quénia, Portugal deparou-se, na meia-final do troféu Bowl (o 3.º em importância das etapas do circuito mundial), não com uma equipa de sevens, mas sim com um dotado conjunto de atletas norte-americanos, reforçados por dois "Fórmula Um" - Perry Baker e Carlin Isles (um dos 80 homens mais rápidos do planeta ao cumprir os 100 metros em 10"13!) - que não deram a mínima hipótese ao selecionado português, que passou a maior parte do tempo de jogo a ver os números das camisolas dos adversários, em especial a n.º 11 de Baker, autor de um hat-trick e que parece ser ainda mais rápido que o afamado Isles.
Mas o dia abriria com o triunfo arrancado a ferros com o Quénia (não vencíamos desde dezembro de 2001 e este foi o nosso 9.º em 20 duelos), equipa que surgiu na etapa australiana desfalcada das suas maiores estrelas devido a problemas com a federação queniana por motivos financeiros. Mas mesmo sem nomes como Injera, Ombachi, Kayange, Adema ou Agunda, a seleção de Paul Treu causou grandes problemas aos Lobos que voltaram a denotar preocupantes problemas defensivos, individuais e coletivos.
Logo a abrir Mugaisi furou facilmente por entre dois jogadores nacionais para fazer os 5-0 (e atá aí, em cinco tentativas de placagem, Portugal falhara três...). Com Gardener a mexer os cordelinhos do jogo português (lançou Belo e Miranda, que perderiam boas ocasiões de marcar), seria o luso-australiano a descobrir Vasco Fragoso Mendes deslocado à ponta, com o jogador de Direito a fazer o empate a 5-5. Mas antes do intervalo o Quénia voltaria a aproveitar falha defensiva para os 10-5 no descanso.
No minuto inicial da 2.ª parte surgiriam os 17-5 e quando se temia novo desaire, com a entrada de Pedro Leal (por que carga de água passou tanto tempo no banco ao longo do torneio?), Portugal começou finalmente a impor-se ao adversário. E aí percebeu-se que a seleção nacional pode até nem estar a jogar um grande râguebi de sete e defende com enormes carências, mas tem uma fantástica crença e acredita até final que pode dar a volta às coisas. E assim sucedeu de novo.
Leal reduziria para 12-17 aos 4", numa boa combinação com Adérito. E no último minuto um espantoso ensaio de praça-a-praça do entrado Nuno Sousa Guedes, que sprintou para aí uns 90 metros, virava o resultado graças ainda à notável conversão (colada à linha!) de Pedro Leal, para os finais 19-17. E a temida reação não surgiu pois a partida acabaria com o árbitro a assinalar falta africana por estar a jogar com oito jogadores em campo!
Contra os Estados Unidos, Portugal nunca conseguiu encontrar antídotos para travar os atletas adversários, com Perry Baker a mostrar uma velocidade que nenhum Lobo podia sequer tentar igualar (não seria altura de ir procurar jogadores rápidos por esse país fora, nem que nunca tivessem jogados sevens?).
Com 19-0 ao intervalo, a partida acabaria com 33-0, fruto de cinco ensaios perante portugueses fatigados e sem capacidade de reação. Portugal alinhou nos dois jogos com: João Lino, Fragoso Mendes, Diogo Mateus; João Belo, Diogo Miranda; Gardener e Adérito. Na derradeira partida jogaram ainda Leal, Vareta, Sousa Guedes, Hugo Valente e Miguel Macedo.
Portugal sai assim de Gold Coast na 11.ª posição, a par com a Escócia, ambos com 5 pontos e, do mal o menos, à frente de Canadá, Quénia e Japão as últimas das 15 seleções residentes no circuito mundial.
O torneio foi conquistado pelas Fiji, que depois de eliminarem a Inglaterra nas meias-finais (ingleses que tinham arrasado anteriormente os "gigantes" All Blacks), bateram Samoa, por 31-24, numa sensacional final da Cup. Nova Zelândia (Plate), estados Unidos (Bowl) e Canadá (Shield) conquistaram os restantes troféus.
Agora o circo dos sevens hiberna durante oito semanas, estando de regresso a 5 e 6 de dezembro, no Dubai, onde Portugal estará integrado no grupo D, juntamente com África do Sul, País de Gales e Canadá.